“Um momento muito emocionante”. Foi assim que o jornalista e pesquisador paraibano Sandino Patriota considerou sua participação na 17ª edição do Tributo a Otacílio Batista – A Poesia Vive, que será realizado hoje, a partir das 19h, no Bessa Grill, localizado na cidade de João Pessoa, em homenagem ao centenário de nascimento do cantador e repentista pernambucano Otacílio Batista (1923-2003). Na ocasião, o autor lançará a biografia Otacílio Batista, uma história do repente brasileiro (Acorde! Editorial, 234 páginas, R$ 70), obra que revela a face humana e penetra a vida privada desse que é considerado um dos grandes artistas brasileiros.
A programação do evento, que é promovido pelo jornalista, produtor cultural e filho do homenageado, Fernando Patriota, tem apoio cultural da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), e ainda inclui apresentações de canções e ciranda pelo grupo Voz Ativa, regido por Luiz Carlos Otávio, cantoria de viola com Oliveira de Panelas, Antônio Costa e Edmilson Ferreira, além de Bianca Rufino, Cleudon Chaves Júnior e Lucille Patriota com declamações. O couvert artístico custa R$ 15.
Organizador do tributo desde 2004, um ano depois da morte de seu pai, Fernando Patriota, que também é o mestre de cerimônias do evento, informou que, ao longo das cinco horas de duração da edição, o público ouvirá, por exemplo, nove músicas, dentre as quais ‘Mulher Nova, Bonita e Carinhosa’, ‘Engenho de Pau’, de Otacílio Batista, e ‘Violeiros’ (Djavan). “O lançamento da biografia é uma das novidades do evento em 2023, na qual assino o posfácio, que faz uma linha do tempo do tributo, ao longo dos 17 anos de existência, e que trouxe resultados, como o Prêmio Patativa do Assaré, do Ministério da Cultura, em 2010, como reconhecimento pela contribuição à cultura, sobretudo a cultura popular; a terceira edição da Antologia Ilustrada dos Cantadores, de Otacílio Batista e Francisco Linhares; o CD Nas Asas do Uirapuru, com canções de Otacílio Batista gravadas por sua filha, Sílvia Patriota; e o documentário Otacílio Batista – A Poesia Vive, do diretor Hélio Costa. Por causa dessa biografia e do centenário, a versão do Tributo deste ano tem um peso temporal diferenciado”, afirmou ele.
A biografia tem dois pontos importantes, na visão de Sandino Patriota, que dão o diferencial no trabalho que vem sendo feito para o resgate da poesia de repente. “Primeiro é o esforço de colocar a poética de Otacílio em contexto, ou seja, como cada obra dele apareceu, em que momento da vida, como se relaciona com a história do Nordeste brasileiro, o que estava se passando nos momentos políticos e econômicos do país e relacionar isso com o desenvolvimento. O repente tem essa genialidade poética de ser criado na hora, de ser criado com métrica e rima própria, etc., mas ele também precisa ser considerado dentro desse contexto em que ele surge. Essa biografia faz um esforço para reconstruir essa história, que também é a história do repente brasileiro. A segunda diferença é ser a biografia acessível para as pessoas que querem conhecer a poesia de repente. Mesmo quem não é especialista, quem não conhece ou até mesmo que nunca viu uma cantoria de viola de repente ao vivo, com os poetas criando os versos na hora, tem, na leitura dessa obra, uma forma de conhecer, se introduzir e de fazer parte do universo da poesia de repente, porque acho que isso seja um elemento a mais a ser ressaltado na cultura do Nordeste e da Paraíba e ser mais largamente utilizado nos meios culturais, inclusive na educação”, explicou o autor.
Sandino Patriota também observou que os leitores vão encontrar aspectos relevantes do biografado. “Um exemplo é o contexto do surgimento de ‘Mulher Nova, Bonita e Carinhosa’ e a questão que está em volta com a autoria de Zé Ramalho, que é o compositor da melodia, com autoria da letra de Otacílio; a questão do surgimento dos versos de Zé Limeira, o poeta do absurdo, do livro de Orlando Tejo; a própria origem poética de Otacílio, mas há muitas outras curiosidades, como o congresso de cantadores, remontando a história desses primeiros congressos e a participação de Otacílio nesses eventos”, disse ele.
Para o biógrafo, é uma homenagem também importante para a história da Paraíba, pois Otacílio se radicou em João Pessoa, no fim da sua vida. “Ele acabou sendo um poeta pelo trabalho que ele fez na Rádio Tabajara, muito conhecido da vida cultural paraibana. A gente acaba, também, falando da história da própria Paraíba, que também está muito ligada com a história do repente. Então, aprofundar, tomar mais contato com essa história, com essa raiz é uma emoção grande”.
*Matéria publicada originalmente na edição impressa do Jornal A União de 28 de setembro de 2023.