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ESTEVAM DEDALUS DIZ QUE FESTIVAL É ‘CAIXA DE RESSONÂNCIA DA CULTURA'

publicado: 30/10/2017 16h29, última modificação: 30/10/2017 16h29

Estevam Dedalus, músico paraibano e integrante da banda Belafel, bateu um papo com a Rádio Tabajara sobre as suas aspirações artísticas e sobre o Festival de Música da Paraíba. Estevam também é compositor, letrista, colunista e professor doutor de sociologia da UEPB. Ele é filho do poeta paraibano Águia Mendes.
A Belafel não tem definição, colocando "tudo em um liquidificador musical... o caldeirão da banda é um amálgama de rock, MPB, ska, sons universais etc.," De veia artística hereditária, Estevam nos explica como é a sua transição com o processo criativo.
“Esse Festival tem tudo para ser a caixa de ressonância da cultura nordestina contemporânea. Um amálgama de novos sentidos e linguagens num cenário dominado pela hiperglobalização e pela indústria cultural”, disse Estevam. Abaixo, a entrevista:

- Qual é a importância do Festival de Música da Paraíba para os artistas?
Gosto muito da ideia invocada pelo próprio Festival de que a música é o “espelho de um tempo e de um povo”. Toda comunidade é, antes de qualquer coisa, uma comunidade imaginada. A música tem um potencial grande de aglutinar valores, sentimentos, visões de mundo e criar identidades. Esse Festival tem tudo para ser a caixa de ressonância da cultura nordestina contemporânea. Um amálgama de novos sentidos e linguagens num cenário dominado pela hiperglobalização e pela indústria cultural.


- Estevam, o quão seu pai influenciou sua aptidão para a arte?
O primeiro legado é afetivo, meu pai é a pessoa mais apaixonada por música que Conheço, eu e meus irmãos tivemos o privilégio de conviver com a música desde criança. Sinto que dessa relação nasceu uma “forma de ser no mundo”. A segunda influência é estética: aprendi muito sobre ritmo, sonoridade e imagem das palavras. O que acho mais formidável nisso tudo é que, apesar de não tocar nenhum instrumento, ele tem habilidade para criar melodias. Na história da MPB encontramos alguns personagens assim, sua poesia é naturalmente rítmica, musical, crítica, e, muitas vezes bem-humorada e são essas coisas que trago comigo. Ele também influencia meu trabalho na figura de crítico extremamente exigente.

- Quando foi que você descobriu que tinha um viés voltado para a música?
Lembro que estava no início do ensino médio, meu irmão aprendeu a tocar violão e formou o embrião do que se tornaria a banda “Metacrose”. Nessa época fiz algumas letras politizadas, isto é, bem panfletárias, que ele e meu amigo Fábio Dantas – hoje professor de letras da UFPB – musicaram. O primeiro “contato real” com um instrumento musical aconteceu, entretanto, pouco tempo depois. Falei comigo mesmo: “vou aprender a tocar Nothing Else Matters no violão” [canção da banda Metallica]. Perturbei então meu irmão para que me ensinasse as partes da música, que ele quase enlouquece! Foi aí, então, que comecei a aprender os primeiros acordes, como dedilhar um violão e desenvolver a ritmicidade. Não larguei mais o instrumento, começando a compor as primeiras canções logo em seguida. O antropólogo Claude Lévi-Strauss dizia: “Tenho a sensação de que os livros são escritos através de mim, e, logo que acabam de me atravessar, sinto-me vazio e em mim nada fica”. Sinto algo semelhante em relação as minhas composições. Não somos nós que descobrimos a música, é ela que nos descobre.
- Qual é a relação que a música, o som e as letras que você escreve tem para com o jornalismo?
Bom... No sentido estrito do termo, não me vejo como jornalista. Pude, no entanto, contribuir para a formação de novas gerações de jornalistas na condição de professor da disciplina Política e Comunicação, do curso de jornalismo da UEPB. O que me deixa de certo modo orgulhoso. Sou, de fato, um articulista que escreve semanalmente para o Jornal “A União”, desde 2011. Isso, sem dúvida, tem sido uma experiência incrível, penso que o que liga as duas coisas, apesar das diferenças entre as linguagens, é a liberdade criativa e ambas permitem que alcancemos níveis semânticos da realidade e da subjetividade humana. Por isso, elas se complementam mais que do que se excluem.
RT - "Juntar o doce com o amargo, o belo com o desagradável..." Essa é uma das descrições da Belafel. Como é trabalhar com elementos tão dúbios e introduzi-los na música?
É estar vivo. Essas dualidades são constitutivas do humano. O que fazemos com a música é estetizá-las.

Erick Marques