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Adeildo Vieira diz que Festival de Música da Paraíba é ‘vitrine’

publicado: 26/10/2017 13h44, última modificação: 26/10/2017 13h44

Um dos grandes nomes da música paraibana, o cantor e compositor Adeildo Vieira comemorou a realização do Festival de Música da Paraíba. Já tendo participado de mais de 20 festivais, ele destaca a importância do evento também para a juventude.

 

“Estamos vivendo uma ebulição muito forte, uma renovação musical através dessa juventude que está chegando aí, com novas propostas, estéticas, alguns se relacionando com padrões antigos mas trazendo o sotaque do novo”, declarou ele.

 

As inscrições para o Festival de Música da Paraíba ainda estão abertas! Corre lá que é até o dia 31 de outubro, ótima oportunidade para quem quer ouvir e ser ouvido! Participe desse momento histórico da cultura paraibana.

 

Adeildo Vieira, compositor e cantor paraibano, começou a sua carreira em 1983 com seu primeiro show solo. Já em 1984 engaja-se no “Musiclube da Paraíba” ganhando o prêmio de melhor letra no Festival  da Escola Técnica Federal da Paraíba com a música “Mama Society Blues”.

Ele lançou o seu primeiro disco em 2000, intitulado “Diário de Bordo”, seguido por “Há Braços” (2009) e “África de mim” (2015), esse último, contém a experiência colhida em suas relações culturais com o continente africano, exaltando ainda mais a força da canção brasileira com raízes negras.

Com uma vasta carreira e muita história para contar, o artista natural de Itabaiana bateu um papo com a Rádio Tabajara sobre a música nos dias atuais e sobre o Festival de Música da Paraíba. Logo abaixo, a entrevista com Adeildo Vieira:

 

- Qual é a importância que o Festival de Música da Paraíba vai proporcionar para os cantores e compositores nordestinos?

Eu acho o Festival um evento de extrema importância, porque ele funciona como uma vitrine do momento, é um retrato da onda musical que se vive. Sempre achei importante, estamos vivendo uma ebulição muito forte, uma renovação musical através dessa juventude que está chegando aí, com novas propostas, estéticas, alguns se relacionando com padrões antigos mas trazendo o sotaque do novo; acho importantíssimo. Sobretudo, quando quem puxa o Festival é uma rádio, é justamente o grande instrumento de divulgação e o maior de todos para a música, então eu acho que esse evento um instrumento de divulgação e interação cultural maravilhoso. Não só entre artista e público, mas também entre os artistas, porque eu já participei de mais de 20 festivais, e o que acho mais legal e importante é o clima dos bastidores, o encontro dos músicos, aquela relação de musicalidade que se estabelece nos bastidores. Que o Festival desague em novas produções, caminhos e oportunidades para os novos compositores, principalmente os mais jovens! A iniciativa foi extraordinária e nós só temos a ganhar com isso.

- Na sua opinião, o Festival remete aos antigos eventos voltados para a música?

Houve um período no país em que haviam muitos festivais, especialmente no final dos anos 60, como os festivais da Record, Festival Intenacional da Canção... Era um momento em que os festivais lançavam os grandes compositores para a história da música brasileira. Depois disso aconteceram alguns nos anos 70, já nos anos 80 voltaram os festivais da Globo, que já tinham outra forma de abordagem, mais voltada pro mercado do que para o mergulho na música propriamente dito. Fazer um festival hoje não é remeter a coisas do passado, mas sim renovar essa proposta que, para mim, não envelhece. Com isso, nós estamos proporcionando condições de lançar novos artistas e compositores para a nova cena musical da Paraíba, do Brasil e do mundo; eu penso dessa forma: nós somos locais, mas o nosso sentimento é universal. Por ser um festival produzido por uma emissora de rádio, a gente espera que o resultado disso faça com que mais compositores sejam conhecidos e que essa interação da Rádio Tabajara com os artistas possa se voltar da Rádio para outras emissoras do Estado e fora dele; eu me lembro que em 2009, o primeiro Festival da Associação das Rádios Públicas do Brasil (ARPUB), teve uma edição aqui em João Pessoa pela Rádio Tabajara, inclusive eu ganhei esse festival com a música “Alegria de Farol”, achei um modelo extraordinário que envolvia a divulgação da música local através da Rádio, o público participava da escolha da música, depois o ganhador local ia defender a música a nível regional das rádios públicas do Brasil inteiro e no final saia o vencedor a nível nacional. Eu acho que deveriam repensar e voltar a fazer o festival mais ou menos nesse modelo, moderno, inclusivo e de interação com outros Estados fazendo com que a divulgação também esteja “fora dos muros” do nosso Estado. Então, para mim, não é proposta velha, trabalhando em cima dos moldes tecnológicos da atualidade, para se alcançar mais público, dentro e fora, a tecnologia nos permite isso.

 

- Adeildo, qual é a diferença entre a transição da música nos meios de comunicação quando você começou nos anos 80 e nos dias atuais?

Nos anos 80 o canal mais importante, assim como ainda é nos dias de hoje, é o rádio. A transmissão da informação musical, o rádio continua sendo aquele grande instrumento que você pode ouvir em qualquer lugar, de fácil acessibilidade, muito democrático. Na época,  a gente tinha basicamente o rádio, e a nossa relação com a imprensa e com os meios de comunicação era tentar convencer o rádio a tocar as nossas músicas; com relação a gravação por exemplo, nós não tínhamos estúdios em João pessoa, tinha que haver um deslocamento para cidades como Recife, as demandas eram muito caras para gravar, depois para se fazer a divulgação, nós gravávamos em fitas K-7 e tentava seduzir o público para consumir ou partia para uma ação mais radical e cara que era produzir o vinil na época. Hoje, naturalmente a acessibilidade é muito grande, através da internet, os estúdios hoje por causa do acesso digital são muito mais práticos, se pode gravar em casa inclusive. Em contrapartida, como todo mundo faz isso, também ficou muito mais difícil de disputar espaços, a profusão de informações é muito grande.

 

- Qual é a receptividade da sua música no exterior?

A receptividade que a minha música tem no exterior é a receptividade que a música brasileira tem fora. Quando chega um artista brasileiro em outros países, todo mundo volta os olhos, a minha música tem um sotaque brasileiro, apesar de que ela tem uma relação muito íntima com outras culturas: o fado, a música africana, também componho reggae... Mas mergulho no samba e na canção brasileira, que é a coisa que eu mais gosto de fazer. Então tenho um público que admira o meu trabalho na Europa e na África, especialmente os sambas e o dedilhado do meu instrumento, que é uma coisa muito característica minha e muito própria da música brasileira. A receptividade é muito boa, ela só não tem maiores penetrações porque não é o simples fato de se “gostar” que faz com que as coisas aconteçam fora, tem todo um processo de produção e eu particularmente não consegui adentrar ainda, eu e muita gente inclusive.

 

- A música está cada vez mais acessível, principalmente com tantos aplicativos reprodutores de música. Como você enxerga os serviços de "Streaming"?

O “Streaming” é um grande advento que a internet proporcionou, hoje em dia tudo está associado a imagem, não é só o som. O apelo visual é muito forte, o movimento das imagens, então conseguir fazer um evento multimídia ao vivo é extraordinário, a resposta é imediata pelas redes sociais, ou seja, a comunicação com o público é muito importante, é universal, mundial e imediata! Agora, cada vez que você avança o patamar da tecnologia e a acessibilidade a ela, encontram-se dificuldades de encontrar espaços porque todo mundo faz isso com facilidade. O que deve ser feito hoje é buscar estratégias, na verdade, o que está em jogo agora é “como você faz” e não mais “o que você faz”, os mecanismos estão acessíveis e as pessoas tem que pensar hoje em estratégias para seduzir o público para assistir. Mas estamos em um momento extraordinário, o “Streaming” é um grande avanço. 

 

Erick Marques